Prefácio

Genilson Sousa da Silva

Padre da diocese de Nazaré-PE

Mestrando em teologia-UNICAP

Gatázio do poder é uma excelente obra que o autor Tolentino Brest focaliza em sua imaginação e criatividade na vida de um personagem fictício, como toda história, mas com uma dimensão realística que deixa o leitor perplexo diante das vivências, projeto, sonhos, desafios, ousadias, poder, orgulho, abertura a diversidades de mundo, pensamentos, interesses, dramas, conflitos, magoas, inveja, amizades, confiança, num universo onde as relações de poder manifestam vivamente na flor da pele.

De fato, lendoa obra de imediato, as relações vivenciais estão inseridos numa linguagem nua e crua, que também expressa num contexto sócio-político, econômico e religioso atual, em nível mundial. Primeiramente, na figura de Bukola, jovem adotado, mas de formação de valores, princípios e cultivados por experiências simples, porém, rica em significados e profundo sentido da vida. Nessa criança que recebe o
necessário até chegar a sua ousadia de liberdade.

Experiência que cada jovem em tempos atuais se sentem dono do mundo e desbravadores de todas as
experiências que a vida possibilitam. Relativizam tudo de mais sigiloso que receberam do habitat. Podemos dizer que fosse um momento de descrença e ao mesmo tempo de um paradoxo entre a formação recebida e o caminho aberto das novas etapas.

Assim, é Bukola, jovem simples, que cada vez mais se sente querido, valorizado e motivado a seguir seu caminho.

Assim fez. Diante de lutas, conquistas nunca se satisfaz com o que tem. Sempre quer mais.
Para conquistar, precisa de gente, de poder, dinheiro e força. O poder é que vai mover sua vida. Quanto mais se tem, mais se distância daquilo que lhe é essencial na arte do bem viver. O poder lhe tira a paz, a harmonia, a família, os amigos, a alegria. Tira-lhe a relação com as pessoas. Diante do poder o ser humano é jogados num mundo de relações descartáveis, onde o mais forte é que sobrevive.

Assim, Suas lutas, conquistas e relações com novas pessoas, são na verdade um busca incessante da insatisfação do poder. Tudo que lhe é oferecido tem um preço econômico. Ele próprio experimenta que na sua ganância se tornou um objeto de lucro. Tudo é movido pelo dinheiro, pelo poder e pelo gozo.

Numa sociedade mundial que passa pela crise econômica, observa-se que chegou a um grau de repúdio aos sistemas sociais, políticos e econômicos que vão cada vez mais perdendo seu vigor de origens. Tornaram-se
grandes meios de manipulação e grupos secretos de grande falcatruas dentro das instituições.

Aqui, observa-se no texto de Tolentino uma "ironia" (crítica) a vida daqueles que são projetadas pelo poder, pela ganância e os grandes interesses. Dando a entender que o mal por se só destruirá. Aqui vem a novidade do tema da obra: Gatázio do poder. E no subtítulo: o infenso da humanidade. Nas garras do poder estava
Bukola, mas que teve um novo olhar diante da vida. Toda conquista, toda ganância o leva a morte. Em todas as alianças experimentava sua própria destruição. Quanto mais adentrava no mundo do poder, mais mergulhava na própria miséria humana. Distanciava daquilo que São Paulo nas escrituras sagradas cristas, que
diz: "para liberdade que Cristo nos libertou" ( Gl 5,1). Ele estava cada vez mais aprisionado.

Nem tudo é trevas, nem tudo está acabado. Uma luz pode brilhar a qualquer momento. Na linguagem cristã dizemos o que Paulo expressou em sua carta: "Onde houve maior pecado, superabundou a graça de Deus" ( Rm 5,20). Latifah é um sinal de amor, de vida nova, de possibilidade na vida de Bukola. O amor reconecta,
redireciona os seus caminhos, seu destino. Observamos isso quando Tolentino mergulhado na vida dos personagens, principalmente, de Bukola, quando diz "tenho medo de ter perdido os sentimentos que nos valoriza como ser humanos".

Mil caminhos percorridos que se distância de si. Poucos caminhos são os que voltam pra sua "casa", para o "lar", que lhe é "fundamental". A mensagem que o texto nos deixa é que muitas são os meios, as pessoas, os projetos, os interesses que levam o ser humano a perdição, a afasta-se de si, da originalidade de ser humano.
Poucos são os sinais que despertam o retorno a casa. Nesta obra, observa-se grandes sinais evangélicos, que expresso isso dizendo não somente numa atitude da religião cristã, mas na visão do próprio Jesus de Nazaré, que são expressão que estão inerente em todo ser humano.

A atitude de busca do bem, da solidariedade, respeito, da dignidade da pessoa humana. Isso não foi perdido na vida do personagem Bukola. Isso, ele redescobre na sua vida. A possibilidade de gente, ser livre, refazer a sua vida. Redescobre nas fontes religiosos do passado da sua família, na religião de sua esposa e por fim, na experiência cristã, numa pastoral na Igreja Católica. Eis aqui, uma das fontes da religião: religar ao fundamental que há no ser humano.

Numa linguagem híbrida, Tolentino faz ressoar as ideias fictícias, com fatos, acontecimentos e situações concretas. Essa é a sua grande riqueza, da ficção inserir fatos concretos nas suas projeções. Além do mais, ele traz para os leitores e leitoras, duas coisas importantes no tempo presente, de tantas: o diálogo inter-religioso e a questão da imigração tal latente nos últimos anos.

Não sei se tem essa perspectiva pessoal, mais lembrando de outro Tolentino, Teólogo português, em sua obra, leitura infinita, que fala da vez do leitor, pegando carona nas ideia de Paul Ricouer, que entramos num mundo do texto, e esse mundo dar novas pista que o autor nem tenha se atinado. Aqui, vejo a riqueza deste texto. Ele
abre para um mundo que vai a além do seu autor.   Ele pode redescobrir muitas ideias dentro da sua própria obra. A questão da religião. Ele leva o leitor a possibilidade de revermos a importância da religião para o ser humano e a convivência entre elas no contexto de pluralismo religioso. Há muitas coisas em comum, há sinais de que o outro, a religião, a outra cultura, possa levar compreender a si mesmo, sua religião e sua cultura.
Em relação com a imigração, o olhar com sensibilidade e acolhimento aos que chegam. Um dos sinais, veem construir um novo horizonte diante de mundos conflituosos e insensíveis.

O acolhimento, Tolentino expressa bem isso na pastoral da sobriedade que com seu trabalho revela um sinal dos tempos presentes da igreja, nas instituições e mais entres nós ser humanos, com o outro que chega. Saber agir com sobriedade com a vida, com as coisas, com o poder, como dinheiro, com as pessoas, com as nossas
relações. Como diz as sagradas escrituras do cristianismo: "pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a vida?" (Mc 8,38). Eis a história desta obra, alguém que teve a oportunidade de refazer sua vida do mundo do poder, da corrupção, da ganância, da violência, das amarras da morte.  

Ao Tolentino, parabéns pela sua maneira de escrever nesse caminho esperançoso sobre o ser humano e ao mesmo tempo, em falar das complexidades humanas. Nesse sentido, sua obra revela você na compreensão de que um mundo melhor é possível, novas relações são possíveis. Sua riqueza está nessa capacidade de trazer
histórias de vidas fictícias, mas com sua ousadia realística.


Goiana, 08 de julho de 2017.


PREFÁCIO

Manoel Matusalém Sousa

Professor. Teólogo. Filósofo. Doutor em Sociologia. Escritor

                NESTE MOMENTO CONTEXTUAL DE CRISE DAS
Instituições, o sentido parece escapar da consciência e das ações dos contemporâneos, configurando uma instabilidade que toca a um tempo os direitos humanos e as experiências religiosas de modo que os Códigos de Direito Civil e Direito Canônico pareçam afônicos diante das transgressões e/ou vidas à margem da
legislação em vigência.

            O contexto descrito sitia epistemicamente Mistérios no Confessionário de Tolentino Brest que, a um tempo, mistura Transgressão civil, desespero e angústia eclesiásticas, objetivando o confronto de duas legislações sustentando tramas, traumas e fidelidade com responsabilidades.

            O gênero ficção nos libera decircunstâncias geográficas para detectar a relação entre pessoas pela mediação de fatos pertinentes à vida social.

O romance se estrutura em torno de e, Nicolas que toma conhecimento de um homicídio pela presença do assassino no seu confessionário. O penitente busca menos perdão que livrar-se da culpa. Antes de uma mudança de vida, busca onde compartilhar o delito e manter silêncio sobre o seu delito. Esta é a postura de
Silver Night há tempo envolto no mundo do crime, mas ,agora,  seguro de que quem o conhece e o sabe não o
entregará à justiça pelo segredo de confissão peculiar ao sacerdote católico que, por juramento prometeu a Deus e à Igreja guardar silêncio sobre o que ouvira do penitente, no exercício do ministério.

Outro personagem Capitão Oliver, Delegado de Polícia que busca manter a tranquilidade e a paz não encontra respaldo para prender assassino de crianças. Trata-se da filha do banqueiro patrocinador do crime. Darla,
que em confissão, na ocasião acusa o padre de manter famoso caixa dois que guarda as doações feitas à Igreja. Com isto, o padre fica nas mãos da delinquente. Um jogo de chantagem, a angústia do padre Nicolas. Este para
superar o sofrimento, busca, na Capital Metropolitana, Pe. Tommy que, num diálogo disciplinar evoca o poder pontifício e a graça. Por outro lado, o Delegado, Capitão Oliver, enquanto Darla tem o padre como álibi para escapar da justiça.

A situação do ministério sacerdotal entre [a em cheque com arevelação de que Michel, com oito anos de idade é filho do padre que num relacionamento forçado por chantagem, foi concebido. O padre vive, a um tempo,
a dedicação ao filho e à Igreja.. Quando o filho questiona o pai sacerdote, a respeito da situação clandestina, ele responde:

-Filho, eu não escolhi estar no sacerdócio, Deus me escolheu para seguir esta vida e espero que entendas, mas que aceite a minha decisão.

Na sua vida sacerdotal, o padre corre o risco de ouvir absurdo e não poder falar às autoridades. Como não bastasse Kristel, mãe de seu filho, a propósito de ter benesse em dinheiro para suprir dívidas com o
narcotráfico. Agora, vítima da droga, ameaça o padre: "Ou você me consegue o dinheiro ou colocarei em público a sua paternidade e filho na clandestinidade".

Finalmente, em atitude orante, toma emprestado à Igreja o montante necessário ao silêncio de Kristel. A mulher desaparece. Como epílogo, é pertinente afirmar que os assassinos foram punidos e, sob o silêncio e o
beneplácido de Roma Pe. Nicolas continua o cuidado com o filho Michel, com a Igreja e o exercício do  ministério do confessionário.

A Tolentino Brest, parabéns pelo texto cuja complexidade e estilo lhe é bem particular.

João Pessoa, 17 de março de 2017